quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Meu pedacinho de céu.

Minhas avós são os meus xodós. Sempre tão queridas e sobretudo, admiradas. Sou apaixonada pelas duas. Pela força de cada uma. Pelo empenho em auxiliar todos ao redor. Pela consideração nos pequenos detalhes. Pelo cuidado com o indizível. Pelas expressões que traduzem amor, amor e mais um pouco de amor. Dificilmente me permitem ajudá-las ou admitem suas fraquezas. Temerosas com minhas reações, no ato de me preservar. Jamais desabafam o que incomoda seus corações. O fazem em dosagens, detalhadamente comedidas e com palavras excessivamente filtradas. Mais uma vez temerosas pelo meu próprio bem. 

Hoje, uma delas me confessou um pequeno desabafo, que só posso chamá-lo como tal pelos anos de convivência e conhecimento. Qualquer outra pessoa certamente reconheceria em sua fala apenas mais uma história. Ela desabafou sua tristeza contando sobre um de seus filhos. Relatou as peripécias da infância. "Todos os dias que eu chegava em casa, depois de um dia de trabalho, ele me mostrava um novo machucado. Todos os dias, sem exceção. Ou um arranhão, ou roxo e até mesmo crises alérgicas. Tão arteiro, sempre arrumando um novo hematoma". Aproveitou o gancho pra contar das vezes que o levava ao hospital por crises alérgicas, diferentes mas sempre iguais. "Um desses dias eu fui visitar uma amiga e o levei. Naquela época tínhamos pó de arroz para maquiagem, e lá foi ele, encontrou o pó dela e passou nele todo. Começou a ficar inchado, dei banho e levei correndo ao hospital. Já eramos conhecidos por lá". Falou que os outros dois (filhos) sentiam ciúmes, diziam que o do meio era o preferido, que ela dava mais atenção e que isso se seguiu em diferentes fases e idades. "Não é isso", me explicou, "amo todos os três igualmente, mas desde sempre o seu pai sempre precisou mais de mim''. 

E mais uma vez a amei. 
Amei tanto que não coube em mim e por isso precisei escrever. 

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