Essas sentimentalidades

Ela o observou. Tão perto de seu toque e tão longe de alcançar. Admirava-lhe sua fidelidade a língua portuguesa e sua belíssima oratória ao descrever até mesmo as trivialidades do dia a dia. Pairava em sua imaginação o cheiro do perfume que atiçava seu coração. Admirava-o ao perceber o seu olhar compenetrado ao que fazia demonstrando esforço e dedicação sem sequer derramar uma gota de cansaço ou imperfeição. Seus pensamentos fixavam a imagem a qual ela obrigava a memória a resgatar em seus mais singelos detalhes. Sabia que ao entardecer recorreria ao auxílio de tais lembranças para despertar novamente o sentimento que jazia em seu peito. Ela ansiava por aquele toque o qual ainda não tivera o prazer de desfrutar, mas não duvidava do desejo e afeição que o mesmo poderia revelar. Agradava-lhe ouvir a voz que oscilava entre a firmeza da certeza e a doçura que só os românticos são capazes de entender. Ele, cujo sorriso arrebatador prendia quaisquer atenções, restaurava nela toda a sentimentalidade de um novo amor. A ela, faltava ousadia e coragem para enfim declarar a vontade de partilhar da presença que aos seus olhos reluziam e beiravam o encantamento da mais bela divindade.

Abriu os olhos, sentou-se na cama e se fez suspirar. Caminhou até a janela e sob a luz do céu estrelado se perguntou quantas vezes mais voltaria a sonhar.